”Que tipo de
sociedade queremos ser?”, berra a jovem militante sueca com seu megafone em uma
rua movimentada do centro de Estocolmo. Hoje são as eleições gerais da Suécia, e é feroz a disputa entre a aliança
governista de centro-direita e o bloco liderado por um confiante Partido
Social-Democrata, apesar do jejum de oito anos longe do poder.
Mas essa reportagem da BBC Brasil com foto da Reuters é apaixonante. Por isso decidi compartilhar o estilo sueco de fazer política, onde vereadores não recebem salário, deputados pegam onibus e metrô e a campanha é de ideias, os candidatos emprestam microfones e até dividem a campanha para recionalizar custos.
Na profusão
de debates diários em todo o país, oponentes políticos jamais trocam ataques
pessoais – o duelo é de idéias. Nas ruas e redes sociais, impera o respeito à
opinião de quem pensa diferente.
Na Suécia não existe horário eleitoral político. ”Não existe,
até porque horários eleitorais são caros – e quem paga essa conta é o
contribuinte”, diz à BBC Brasil o estrategista-chefe da campanha
social-democrata, Jan Larsson.
”O que existe
aqui é um debate constante nos jornais, nos canais de TV, nas rádios, além de
uma grande mobilização popular que inclui a militância porta a porta,
discussões políticas nos clubes de esportes, e por toda parte. E naturalmente,
as mídias sociais crescem em importância. Fazer campanha política na internet é
extremamente eficaz, e extremamente barato”, destaca Larsson.
'Respeito
pela democracia'
No
quartel-general do Partido Social Democrata o movimento é
febril. O prédio fica na avenida central de Sveavägen, e está convenientemente
situado – para a eventualidade de episódios de estresse agudo da militância –
ao lado de uma loja do Systembolaget, o monopólio estatal da venda de álcool no
país.
Um labirinto
de corredores conduz à ampla sala do controle central da campanha, e Jan
Larsson aponta, com movimentos rápidos das mãos: "naquele canto trabalha a
equipe responsável pelas políticas de educação, ao lado está o time que
trabalha com a questão do emprego", e assim por diante.
Imensos
gráficos decoram todas as paredes. A sala está repleta. Cerca de cem pessoas
integram o cérebro da campanha, mas a ordem e o silêncio imperam no lugar. É
aqui que se engendram os estratagemas e propostas para chegar ao poder. Ataques
pessoais a adversários estão fora da agenda.
”Campanhas
políticas na Suécia são mais focadas em projetos concretos de governo, em
comparação com outros países onde o foco está em campanhas negativas e
agressivas, como por exemplo comprar espaço na TV apenas para dizer como os
seus adversários são ruins”, diz Larsson.
”Penso que
temos na Suécia um respeito comum pela democracia, que espero que possamos
manter. Todos os partidos políticos lutam pelo poder, mas mantendo o respeito
mútuo”, acrescenta ele.
Campanha
'compartilhada'
Pergunto a
Larsson se é mesmo verdade que, nas cidades do interior sueco, membros de
partidos adversários chegam a emprestar equipamentos de campanha uns aos
outros.
”Isso
acontece a nível local, onde os recursos de campanha são mais limitados. Até
porque não damos importância a coisas idiotas, como se preocupar em não
emprestar microfones ou alto-falantes a um oponente”, enfatiza ele.
”Não é que
todos os políticos suecos sejam fantasticamente bons, mas principalmente porque
os eleitores suecos respeitam os políticos que cooperam e colaboram. Então, o
político sabe que, quando empresta seu alto-falante para o candidato
adversário, isso é visto como uma coisa positiva pelo eleitorado.
No nível da
política nacional, no entanto, esse tipo de necessidade de emprestar
equipamentos não existe”, ele completa. No nível
nacional, a cooperação entre as siglas se dá em questões como a calculada
limitação do reduzido número de propaganda eleitoral nas ruas do país. Outdoors
são proibidos.
”Normalmente,
os partidos acertam qual o número de posters que podem ser colocados, e também
o horário. Todos concordam que ninguém
colocará os posters antes da meia-noite de uma sexta-feira, por exemplo. E são
os militantes dos movimentos jovens dos partidos que cumprem esta tarefa, de
estar de pé à meia-noite para conseguir os melhores locais para pendurar os
cartazes”, diz o chefe de campanha.
Mas há um
elemento de respeito na empreitada, observa Larsson:
”Ninguém
simplesmente toma todos os melhores locais disponíveis. E muitas vezes, um
militante retira alguns de seus cartazes para dar lugar aos do adversário.
Normalmente, ninguém briga por causa disso. É preciso entender que o objetivo
da propaganda é aumentar a visibilidade das eleições, mas não são nada assim
tão fundamental. E por isso, não faz sentido brigar por causa disso.”
As regras
são rigorosas: todos os pôsteres eleitorais devem ser retirados das ruas num
prazo máximo de dois dias após a votação.
”E os
políticos sabem que, se deixarem os cartazes pendurados depois do prazo,
sujando a paisagem da cidade, vão ser punidos pelos eleitores nas próximas
eleições”, diz Larsson.
Nessa
temporada eleitoral, alguns candidatos descontentes levantaram a voz na semana
passada. Isso porque militantes do Partido Feminista sueco, em nome da sua
causa, aproveitaram a calada da noite para colocar adesivos de óculos
cor-de-rosa nos rostos de todos os líderes partidários estampados nos cartazes
adversários.
Debate
de ideias
Mas no
geral, as campanhas políticas na Suécia se definem a partir de um tradicional
tripé de cooperação, consenso e bom-senso, sustentado a partir de um robusto
debate de idéias e propostas concretas.
Em todos os
jornais, rádios, sites de notícias, canais de TV e redes sociais, o debate de
idéias é diário e intenso. Jornais abrem espaço em suas páginas de opinião para
debater temas diversos da campanha, e convidam políticos dos diferentes
partidos a expressar suas posições e propostas em dias alternados.
Nas TVs
públicas e comerciais, os debates se produzem em programas de uma hora de
duração, seguidos por análises com painéis de cientistas políticos e políticos
dos diferentes partidos. Nos telejornais, duplas de candidatos adversários se
enfrentam em discussões diárias de propostas. Nas rádios, a cena se repete.
Em programas
de culinária, candidatos preparam jantares para adversários em suas casas. E
programas dedicados a áreas como cultura e saúde, nesses tempos de eleição, também
se transformam em arenas de debates de candidatos sobre temas específicos,
tanto nas rádios como nas TVs.
Cada
político sueco sabe que tem que fundamentar cada proposta, e explicar muito bem
de onde pensa em tirar o dinheiro para financiar e cumprir a promessa – é aí
que os verdadeiros duelos se travam com ferocidade. Mas com respeito.
”Políticos
que são duros demais com seus adversários se arriscam a perder o voto do
eleitor”, disse no jornal Svenska Dagbladet a especialista em retórica Lena Lid
Falkman, que integra o painel de análises políticas do diário.
”Ataques
pessoais contra adversários políticos e campanhas negativas não dão certo na
Suécia. A campanha tem que ser limpa, e não há espaço para ofensas indecorosas.
Se um político quer ser cruel contra um adversário, ele tem que fazer isso com
humor”, pontuou Lena.
O repórter
perguntou, então, a Lena o porquê de não se ver na Suécia, como ocorre em
outros países, murros e socos entre parlamentares.”Temos na
Suécia uma cultura de consenso, e de ouvir quem tem opiniões divergentes.
Também somos um país pacífico, e não nos parecem existir coisas no debate político
suficientemente importantes para nos engalfinharmos em sua defesa. Os partidos
políticos também cooperam de maneira bem mais próxima para solucionar os
problemas do país”, destacou ela.
Mas Lena
admite que a entrada no Parlamento dos Democratas da Suécia
(Sverigedemokraterna, partido de extrema-direita) tornou a situação mais
dramática:
”O debate
político ficou mais acirrado. E, de certa forma, é mais tolerado ser um tanto
duro contra os políticos da extrema-direita”.
Propaganda
Política
Até o ano
passado, campanhas publicitárias de partidos políticos na TV eram proibidas na
Suécia. Este ano, pela primeira vez, faz-se uma experiência: no canal 4 da TV
comercial, o eleitorado assiste a breves comerciais políticos de cerca de 40
segundos de duração, veiculados entre anúncios de margarina e barras de
chocolate.
”Produzir
comerciais mais longos seria caro demais, não teríamos dinheiro”, diz uma das
assistentes de Jan Larsson, no comando central da campanha social-democrata. Na Suécia, a
principal fonte de arrecadação de fundos dos partidos políticos é o
financiamento público, que corresponde a um valor entre 70% e 80% do total
arrecadado pelas agremiações.
”Exatamente
pelo fato de as campanhas publicitárias serem uma ferramenta tão cara, e tão
poderosa, é preciso ser cuidadoso e não exagerar na sua utilização”, diz
Larsson.
”E é
importante ter sob controle as contribuições de campanha para os partidos, a
fim de evitar a sensação que se tem no sistema americano, por exemplo, de que a
Associação Nacional de Rifles financia as siglas e as campanhas publicitárias
para influenciar a agenda política”.
Sobre as
campanhas milionárias que se produzem no horário eleitoral político do Brasil,
Jan Larsson diz que é preciso ter cautela:
”Seria um
absurdo da minha parte expressar opiniões pessoais sobre a democracia
brasileira, mas naturalmente é preciso ter-se muito cuidado em permitir que o
dinheiro controle a informação. Especialmente quando não se tem um sistema
rígido para controlar quem financia os partidos políticos.
Se a distribuição de
recursos para os partidos é justa, então todos têm as mesmas oportunidades. Mas
quando você permite que grandes empresas e organizações controlem o
financiamento dos partidos, põe-se em risco uma coisa
extremamente fundamental, que se chama democracia”, diz Larsson.
”O que deve
vencer uma eleição é o melhor argumento, e não a carteira mais gorda”, opinia o
estrategista.
E eu acrescento que a mesmo assim, a Suécia não é o país mais honesto. É a Dinamarca, a corrupção lá beira a zero. Também vale lembrar que além da BBC, a Superintessante tras reportagem sobre a Suécia.
Eu acredito nesse tipo de política sueca! Qual sua opinião?
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